O cenário da Odontologia no Brasil, nos dias atuais, é de domínio das mulheres. Enquanto que, na década de 1960, os cirurgiões dentistas eram majoritariamente do sexo masculino, representando 90% dos profissionais registrados no Conselho Federal de Odontologia (CFO), a realidade atual é bem diferente: as mulheres tornaram-se maioria, representando 60,76%, enquanto que os homens somam 39,24% (em um total de 314.712 mil cirurgiões dentistas inscritos no CFO).
A realidade na Associação dos Cirurgiões Dentistas da Baixada Santista (ACDBS) também não foge do cenário apresentado pelo Conselho de Classe. As cirurgiãs dentistas representam 56% do corpo de associadas, passando, por sua vez, o número de cirurgiões dentistas, totalizando os demais 44% na entidade.
Outro dado relevante apresentado pela ACDBS é em relação ao número de acadêmicos de Odontologia associados: as mulheres representam 78% do total de universitários, enquanto os homens somam 22%. Esses números refletem, portanto, na inserção cada vez mais evidente das mulheres nos espaços universitários brasileiros, inclusive apontado em relatório produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): as mulheres brasileiras têm 34% mais probabilidades de se formar do que seus pares do sexo masculino.
Neste Especial de Março, Mês da Mulher, a Revista ACDBS preparou uma homenagem às associadas recém-formadas em Odontologia, que representam a nova geração de cirurgiãs dentistas, mostrando os desafios da profissão, os sonhos para a construção das próprias carreiras e suas visões sobre a área de atuação.
Para esta edição, foram entrevistadas quatro recém-formadas, sendo duas oriundas da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e duas da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes). A recém-formada mais jovem é Nicólli Letícia Neves da Silva, de 21 anos, formada em Odontologia pela Unisanta no ano de 2021 e associada na categoria “Efetiva Recém-Formada” na ACDBS neste ano. Em sequência, por ordem de admissão na entidade, Gabrielle Gomes da Silva, de 36 anos; Gabriela dos Santos Gonçalves Lima, e, por fim, Flavia Andrade da Cruz, de 30 anos.
Por fim, adicionamos um depoimento de Maria Christina Coelho Loyo, primeira e única mulher a presidir a Associação dos Cirurgiões Dentistas (ACDBS) e a primeira mulher a conquistar o cargo mais alto diretivo em entidades de classe na região.
A Associação dos Cirurgiões Dentistas da Baixada Santista (ACDBS) tem o orgulho de ter, em nosso quadro associativo, mulheres que contribuem para a excelência do atendimento odontológico, seja no consultório particular ou na rede pública, e em diversas frentes de atuação na saúde e na defesa da classe. Que o início da caminhada dessas jovens na Odontologia possam inspirar as novas gerações.
Flávia Andrade da Cruz, 30 anos
“Sempre gostei da área da saúde por conta dos meus pais, que são enfermeiros. Minha mãe trabalhava na área de saúde pública e eu ia com ela na Unidade Básica de Saúde durante as minhas férias escolares. Lembro que, aos 7 anos de idade, ficava na recepção, auxiliava no agendamento de pacientes para os cirurgiões dentistas, adorava a rotina. Mas antes de definir minha verdadeira paixão, passei por outros cursos. Prestei o vestibular para Economia logo que me formei no ensino médio, aos 17 anos. Desisti antes mesmo de começar o curso em São Paulo. Em seguida, fiz cursinho com a intenção de fazer Medicina e acabei indo para Engenharia Química e, posteriormente, acabei estudando Engenharia de Produção na Unisanta. Tendo um contato com uma amiga de escola que sempre quis Odontologia e que também estava estudando na Unisanta, comecei a considerar essa escolha. Tudo foi dando muito certo, parecia mágica, fluía. Conheci o meu esposo também na Odontologia. Eu entendo que a nossa área deve tratar a integralidade do paciente, não só a estética dos dentes”.
Gabriela Gonçalves, 26 anos
“A área acadêmica sempre me fascinou. Durante a época da faculdade, participava da gestão de algumas das ligas acadêmicas e, durante uma delas, a de Dentística na Unimes, o preceptor da época, Dr. Nivio Fernandes Dias, nos incentivou a nos associarmos na ACDBS. Mesmo depois de formada, quis continuar na Associação e ficar por dentro de tudo aquilo que envolve a classe dos cirurgiões dentistas. Durante a faculdade, também fui muito participativa em outras frentes dos estudantes de Odontologia da Unimes e cheguei a ser presidente do Diretório Acadêmico. Foi uma grande escola para mim, porque não aprendia somente o conteúdo de saúde previsto no currículo, mas aprendi sobre leis para entender o estatuto do Diretório, separar funções administrativas… Foi uma grande responsabilidade! Assim que me formei, em meados de julho de 2021, consegui meu primeiro emprego em Clínica Popular. Hoje atuo em um consultório fazendo o que mais amo e também estou cursando o Mestrado em Prótese Dentária na São Leopoldo Mandic”.
Nicólli Letícia Neves da Silva, 21 anos
“Tudo começou quando fui realizar um clareamento dental após a remoção de aparelho corretivo em um consultório odontológico. Chegando lá, eu tive a certeza de que a Odontologia era a área certa para mim. Passei a pesquisar mais, conversei com alguns cirurgiões dentistas de minha confiança. Achava que não conseguiria realizar a graduação, porque estava fora do meu alcance e das minhas condições financeiras, mas consegui um desconto na mensalidade, tive o apoio da minha família e, com isso, foi possível realizar esse grande sonho. Minha carreira como cirurgiã dentista está sendo maravilhosa, no mesmo dia que entreguei os currículos, já fui chamada para trabalhar em clínica. Sinto que, a cada dia, aprendo mais com profissionais experientes e super competentes. Investi em alguns cursos, como Bichectomia, Patologias Orais Básicas e Primeiros Socorros. Um dos maiores desafios da Odontologia é o alto custo do material e dos equipamentos. Ser uma mulher nesta área é um privilégio, porque antigamente era uma profissão que só os homens exerciam. Hoje as mulheres têm um espaço muito maior, o que é gratificante“.
Gabrielle Gomes da Silva, 36 anos
“Fui auxiliar de saúde bucal (ASB) de um consultório odontológico por 15 anos, e com o tempo, fui me apegando à profissão. Só demorei a cursar Odontologia porque tinha de trabalhar e, na época, só tinha a opção para cursar em período integral. Mesmo assim, nunca desisti, porque enxerguei o amor pela profissão que crescia mais e mais! Em 2014, comecei a estudar Odontologia em outra Universidade, mas tive de parar porque meu pai teve um câncer. Por ser filha única, tive de cuidar dele. Quando ele melhorou, comecei a cursar Odontologia novamente, só que em outra Universidade, isso em 2017. A carreira pós-formada não é fácil, eu ainda tenho sorte de ter voltado a trabalhar onde fui ASB, então logo que me formei, já comecei atendendo. Hoje, trabalho em duas clínicas, uma em Santos e outra em Guarujá. Vou começar neste ano a minha pós em Cirurgia Oral. O grande desafio da Odontologia, ao meu ver, é que as pessoas precisam entender que nossa área não se trata de vender saúde, e sim, cuidar da saúde, sem fazer promessas que não possam ser cumpridas”.
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