Dores nas costas, tendinites, hérnia de disco e bursite. Essas doenças musculoesqueléticas são algumas consequências que um cirurgião dentista pode ter ao longo da sua carreira, especialmente se sua atividade laboral for mais dedicada à clínica, afinal, a postura e os excessos de movimentos repetitivos podem comprometer a sua saúde.
Para evitar que doenças mais graves ocorram, o cirurgião dentista deve se atentar à ergonomia. Ela é considerada a ciência que estuda as adaptações dos postos de trabalho para que o profissional possa desenvolver as atividades de maneira segura. O profissional de Odontologia é um dos que mais sofrem com as doenças relacionadas a posturas inadequada, desconfortável e assimétrica, de acordo com a fisioterapeuta Cecilia Simões, especialista em Osteopatia e Medicina Tradicional Chinesa.
“Movimentos frequentes durante um atendimento são os da cervical e torácica em flexão e rotação, ombro em abdução, cotovelo em flexão, lombar muitas vezes sem apoio, ocasionando esforço e movimentos repetitivos por longo período, quebrando a homeostase do corpo (equilíbrio e harmonia corpórea), criando tensões, fadiga, processos inflamatórios e alterações emocionais”. Uma das doenças ocupacionais mais comuns para os cirurgiões dentistas é a síndrome LER/DORT (lesão por esforço repetitivo/distúrbio osteomuscular relacionados ao trabalho), considerada a mais frequente como diagnóstico causal de afastamento por incapacidade temporária ou permanente. “É uma síndrome que inclui um grupo de sintomas como dores nos membros superiores e dedos, dificuldade para movimentá-los, formigamento, fadiga muscular e redução e/ou bloqueio na amplitude de movimento. Alterações posturais como escoliose, cifose e hiperlordose podem acentuar as doenças ocupacionais”, explica Cecilia.
A fisioterapeuta ainda reforça que o profissional precisa ficar atento a outros fatores de risco que comprometem a sua saúde. “Se o cirurgião dentista não tem o hábito de fazer pausas durante as consultas e atendimentos, ou até se a iluminação da sala não estiver adequada, as doenças musculoesqueléticas poderão se agravar”, alerta.
Nos quadros das páginas 15, 16 e 17, Cecília orienta os associados sobre procedimentos ergonométricos para melhorar a saúde, desde a postura ideal para se sentar no mocho, posição da cadeira do paciente e até sobre a disposição do consultório onde se trabalha.
Posicionamento ergonômico para cirurgiões dentistas
Dicas essenciais para as atividades laborais durante o atendimento clínico
1) Postura ideal para sentar no mocho:
• Sentar no mocho com a parte das coxas paralelas ao chão, formando um ângulo de 90º com as pernas e os pés apoiados no chão. Acima de 90º há maior compressão da circulação venosa de retorno, o que resulta no aparecimento de varizes.
• Manter as costas retas e apoiadas no encosto do mocho e a cabeça ligeiramente inclinada para baixo.
• Trabalhar com os cotovelos junto ao corpo ou apoiados em local que esteja no mesmo nível.
• Ajustar a altura da cadeira de maneira que uma das pernas possa ser apoiada sob o encosto.
• Posicionar o cabeçote para baixo, quando o trabalho for realizado na maxila, ou para cima e para frente, caso seja na mandíbula.
• Posicionar o paciente deitado na cadeira, de modo que a boca do mesmo fique no mesmo nível dos seus joelhos.
• Manter uma distância de 30 cm da boca do paciente.
• Posicionar o refletor à frente do paciente para trabalhar na maxila ou perpendicularmente à cabeça do paciente para o trabalho na mandíbula.
• Utilizar sugadores de alta potência para evitar que o paciente utilize a cuspideira, pois acarreta em mudanças constantes da posição, além de perda de tempo.
• Fazer um intervalo de 10 minutos a cada 90 minutos de atendimento.
• Realizar exercícios de alongamento e movimentos para facilitar o retorno venoso dos membros inferiores.
2) Postura da cadeira do paciente:
A cadeira do paciente deve ser reta e simples, permitindo que o paciente seja confortavelmente instalado na posição horizontal. Dessa maneira, ele mantém o corpo totalmente apoiado, facilitando o acesso do dentista ao campo de trabalho. Outro ponto importante é que o apoio de cabeça deve ser ajustável, propiciando a visão direta a todos os segmentos da cavidade oral, seja na mandíbula ou na maxila, na distância correta de visibilidade.
3) Tamanho e disposição do consultório:
A área total não deve ter mais que três metros de largura. Em toda essa área, ficam a pia e os armários fixos, sendo que as gavetas, quando abertas, devem ficar dentro de um círculo de 1,5m de raio. A área útil de trabalho, que pode ser alcançada com o movimento de esticar o braço, não deve ser maior do que 1m de raio.
4) Iluminação do consultório:
A iluminação é fundamental para um bom atendimento e interfere diretamente na produtividade. Se a iluminação está precária, o cirurgião dentista precisará se movimentar para encontrar um ponto de visão adequado, interferindo diretamente na postura adequada. Todos os locais devem ter iluminação adequada de forma uniforme e difusa, pode ser natural ou artificial, desde que apropriada para o trabalho realizado. Ela deve ser projetada de forma que não gere sombras ou ofuscamento.
Alongamento para cirurgiões dentistas
Os alongamentos podem ser realizados antes, depois e até entre as consultas
1) Braços:
Sentado no próprio mocho, entrelace os dedos das mãos e estenda os braços para cima, com as palmas viradas para o alto. Permaneça assim por 30 segundos, mantendo a postura ereta e olhando para frente.
2) Peitoral:
Sentado, coloque os braços para trás, junte as mãos e abrace as costas da cadeira. Deixe o peitoral estufado com a postura ereta e olhando para frente.
3) Pescoço:
Coloque a mão direita sobre o lado esquerdo da cabeça, próximo da orelha, puxando na direção do ombro. Em seguida, vire o rosto para baixo, em direção à axila. Segure por 30 segundos e relaxe, segue fazendo o mesmo movimento com o lado contrário.
4) Torções laterais:
Sentado, segure com a mão esquerda nas costas da cadeira e vire o corpo para o mesmo lado, deixando os ombros perpendiculares ao restante do corpo. Com a mão direita, segure o assento. Após 30 segundos, repita o processo invertendo o lado.
5) Lombar:
Ainda sentado e com as pernas separadas, na linha dos ombros, vá debruçando tronco lentamente para frente, sobre as coxas. Ao encostar o abdômen sobre as pernas, flexione a cabeça para frente. Não é necessário fazer força, deixe apenas o peso do corpo. Profissionais com sintomas de doenças ocupacionais, na maioria dos casos, é necessária uma avaliação e um acompanhamento multiprofissional, tendo fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e médico especialista.
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