
Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, é uma das figuras mais emblemáticas da história do Brasil. Nascido em 1746 na Capitania de Minas Gerais, Tiradentes se destacou como um homem de múltiplos talentos: foi militar, tropeiro, comerciante, ativista político — e, notadamente, prático de cirurgia dentária, o que lhe rendeu o apelido pelo qual ficou conhecido. Sua atuação como Cirurgião Dentista, ainda rudimentar para os padrões da época, lhe conferiu posteriormente o título de Patrono da Odontologia Brasileira, consolidando seu nome tanto na história política quanto na profissional.
Tiradentes viveu num Brasil colonial sob domínio da Coroa Portuguesa, em uma sociedade marcada por profundas desigualdades sociais e econômicas. Como alferes (posto militar equivalente a tenente), ele teve contato direto com as injustiças do sistema de exploração do ouro, especialmente a "derrama", um imposto abusivo que obrigava os colonos a atingir uma cota anual de ouro para a Coroa, independentemente da produtividade real.
Indignado com a situação e influenciado pelos ideais iluministas e pelas revoluções americana e francesa, Tiradentes tornou-se um dos líderes da Inconfidência Mineira, movimento conspiratório que visava à independência da então Capitania de Minas Gerais e à criação de uma república livre do domínio português. O plano incluía o fim dos privilégios da elite colonial e o estímulo à produção local, além de propor maior igualdade de direitos.
Embora o movimento tenha sido descoberto e reprimido antes de sua deflagração, Tiradentes assumiu sozinho a responsabilidade pela conspiração, numa tentativa de poupar seus companheiros. Julgado e condenado por traição à Coroa, ele foi enforcado e esquartejado em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. Seus restos mortais foram espalhados por caminhos públicos como forma de intimidação, mas seu sacrifício acabaria tendo o efeito oposto: transformá-lo em símbolo máximo da luta pela liberdade no Brasil.
Seu nome passou a ser lembrado como sinônimo de resistência, coragem e luta por justiça social. Em 1890, com a Proclamação da República, o governo brasileiro oficializou 21 de abril como feriado nacional em sua homenagem, reconhecendo-o como o "Mártir da Independência". Ele é o único personagem da história do Brasil cuja morte é comemorada como um símbolo de nascimento de ideais republicanos.
A relação de Tiradentes com a Odontologia se dá principalmente pela sua atuação como prático da arte de extrair dentes, uma prática comum na época, feita por barbeiros, curandeiros e militares sem formação acadêmica. Ele viajava por vilarejos oferecendo atendimento à população que sofria com dores de dente sem qualquer outro tipo de assistência. Por isso, a história o reconhece como um dos primeiros brasileiros a se dedicar à Saúde Bucal — mesmo de forma empírica — e, simbolicamente, foi escolhido como o Patrono da Odontologia Brasileira.
Essa homenagem tem profundo valor simbólico. Representa o espírito de dedicação ao bem-estar das pessoas, a luta por justiça social e a coragem de desafiar o sistema em nome do coletivo — valores que se alinham à ética da prática odontológica. Mais do que um personagem histórico, Tiradentes se tornou um arquétipo do profissional que, mesmo diante das adversidades, age com compromisso, humanidade e visão de futuro.
Durante comemorações, no ano de 1939, ele foi proclamado como Patrono da Odontologia Brasileira, e em 1965 pela Lei n°4.897, na presidência do Marechal Castelo Branco, instituído o título de “patrono cívico da Nação Brasileira”.
Homenageando à trajetória histórica do Cirurgião-Dentista na sociedade, a data de 21 de abril é marcada como feriado nacional por meio da Lei nº 10.607 de 19 de dezembro de 2002.

Sua imagem também está imortalizada nos símbolos da República: o busto com barba longa, os olhos voltados para o horizonte e a expressão serena estampam monumentos, cédulas e pinturas. É uma figura que transcende seu tempo, sendo lembrado não apenas pela sua luta política, mas pelo impacto cultural e profissional que deixou no Brasil.
Assim, a memória de Tiradentes se mantém viva, celebrada não só como mártir da liberdade, mas também como inspiração para todos aqueles que, como ele, acreditam que o conhecimento, a coragem e o serviço à sociedade podem transformar realidades.